Jesus, os Apóstolos e os primeiros Cristãos

1. A situação política da Palestina nos tempos de Jesus 

Importa sublinhar que efetivamente a Bíblia "concretamente os evangelhos" não dizem nada acerca do dia, do mês e do ano em que nasceu Jesus.

À primeira vista podemos ficar impressionados com o fato de não ter ficado registrado em lado nenhum um fato mais marcante da história de toda a humanidade.

Tão marcante e tão importante que dividiu a história num antes de Cristo e num depois de Cristo.

No início a Igreja estava mais preocupada em celebrar a Morte e Ressurreição de Jesus do que o seu nascimento.

Para ser neste dia, foi tido em conta o fato de no império romano a 25 de Dezembro se celebrar uma Festa em honra do deus Sol, no solstício de Inverno.

Nessa festa, tinham destaque o fogo e a luz: grandes fogueiras eram acesas para ajudar o Sol à «levantar-se» de novo por cima do horizonte.

A Igreja de Roma e outras igrejas mais próximas, ao escolherem uma data para celebrar o nascimento de Jesus, elas aproveitaram esta data pagã para cristianizarem, tendo em conta o conteúdo bíblico da luz.

Os teólogos e pregadores desta altura não se cansam de afirmar que o verdadeiro Sol é Cristo e não um deus qualquer.

A estas motivações não deve ser alheio também um argumento político de Constantino, pois ao colocar a festa de Natal neste dia, o imperador agradava a pagãos e a cristãos, e deste modo apresentava mais um argumento para a união de povo do seu vasto império.

Entretanto Jesus viveu em Nazaré a existência dum judeu piedoso, praticando a Lei, segundo o espírito dos fariseus, os mais religiosos dos judeus. Por volta dos anos 27- 28, aconteceu o Seu batismo por João Batista e inaugura os seus dois ou três anos de vida pública. Condenado pelas autoridades religiosas foi crucificado pelos Romanos no dia 7 de Abril do ano 30.

Nessa época era imperador de Roma Tibério "14 - 37", governador romano da Palestina Pilatos "26-36" e Sumo Sacerdote Caifás "18 - 36".

Terá, por isso, morrido com cerca de 36 anos de idade.Com a morte de Herodes – o Grande - o reino foi dividido entre os seus três filhos: Arquelau recebeu a Judeia, a Idumeia e a Samaria; Herodes Antipas recebeu dois territórios separados - a Galileia e a Pereia; Herodes Filipe recebeu os territórios de nordeste – Gaulanítide, Bataneia, Traconítide e Auranítide.

A irmã de Herodes, Salomé, recebeu o território de Jâmnia-Azoto "cf. Suplementos da Difusora Bíblica".

Arquelau, que recebeu a maior parte, tornou-se impopular por causa do seu governo despótico e brutal.

Foi deposto e desterrado para as Gálias no ano 6 d. C. O seu território foi anexado à província romana da Síria, tendo por isso beneficiado de uma administração especial dirigida por um procurador que exercias as funções supremas de Justiça.

À comunidade religiosa de Jerusalém reconhecia-se o direito de julgar os seus próprios assuntos no Sinédrio, contudo o cumprimento das penas capitais cabia ao procurador romano.

Neste contexto, os judeus esperavam a vinda de um rei messiânico inspirado nos antigos profetas, mas no decorrer de tantos séculos de dominação estrangeira passou a esperar um libertador político, um Messias vitorioso que poria fim a essa dominação.

 

2. Morte e ressurreição de Jesus. situação política da Palestina nos tempos de Jesus

Jesus não era esse libertador político, não era o Messias esperado. O fato de Jesus ter reconhecido, diante de testemunhas, que era o Messias e o Filho de Deus quando interrogado pelo Sumo Sacerdote Caifás "Mc. 14. 61" bastou para condená-lo à morte por blasfêmia. De acordo com as leis em vigor, a sentença devia ser confirmada e executada pelo procurador romano.

Na época Pôncio Pilatos "nessa função de 26 a 36 d.C".Os apóstolos de Jesus também não entenderam a sua morte porque o Messias não devia morrer, e menos ainda ser crucificado.

Por isso todos fugiram desiludidos e com muito medo das consequências que podiam sofrer. Nem sequer estão junto à cruz "à exceção de João". E quando foi para O sepultar, foi José de Arimateia, membro do Sinédrio, que assumiu esse encargo "Lc. 23.  50 - 52". Lucas relata, neste contexto, a saída de dois discípulos de Jerusalém para Emaús.

Uma saída que se justifica porque eles já não esperam mais nada… Afinal Jesus era apenas mais um profeta "Lc. 23. 13".

Basta esta descrição para compreendermos o que teria acontecido se Jesus não tivesse ressuscitado. Mas a verdade é que Jesus ressuscitou e o único fato histórico que possuímos é a transformação ocorrida nos seus discípulos.

Antes covardes e temerosos agora decididos e audazes a proclamar a ressurreição do Mestre.A ressurreição é uma realidade profunda e transformante que implica a nossa fé.

A ressurreição de Jesus não foi uma reanimação do corpo "como Jesus fez com a filha de Jairo e com Lázaro", mas é o encontro entre Deus vivo e Jesus Morto.

Um encontro tão intenso que só, deste modo, pode explicar que a fé pascal tenha realizado umas mudanças tão radicais, primeiras nos apóstolos e depois em todos aqueles que, ao receberem essa força, ficaram cristianizados.

O primeiro anúncio da ressurreição foi feito por Pedro no Pentecostes "At. 3. 12 - 16". Este discurso mostra como a força desta boa nova da ressurreição "Evangelho" é comunicada aos homens e interpela os ouvintes.

É precisamente à luz deste acontecimento pascal "páscoa-passagem" que a vida e a morte terrenas de Jesus se ilumina, tomando um significado que até aí tinha passado despercebido aos apóstolos.

Agora o Mestre tinha-se convertido em Messias. O Jesus de Nazaré passa a ser reconhecido como o Cristo "ou Messias".Efetivamente, sem a ressurreição não haveria cristianismo. E, se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia, e vazia é também a nossa fé "1 Co. 15. 14".         

3. As primeiras comunidades cristãs 

O livro dos Atos dos Apóstolos relata que, depois da proclamação da Boa Nova por Pedro no dia de Pentecostes, os seus ouvintes não ficaram indiferentes. Pedro disse que eles se deviam converter recebendo o Batismo em nome de Jesus Cristo.

E contam os Atos que só naquele dia se juntaram aos discípulos cerca de três mil pessoas "At. 2: 41".

O judaísmo daquele tempo era plural, e essa primitiva comunidade de Jerusalém aparecia mais como um grupo judeu: eram fiéis às práticas da religião judaica, frequentavam o Templo. Embora tivessem as suas próprias reuniões, especialmente para a «fração do Pão», isto é, a Eucaristia. Basta ler a famosa passagem de "At. 2. 42": Eram assíduos ao ensino dos apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações.

Essas primeiras comunidades eram constituídas por dois grupos diferentes de judeus: uns eram hebreus de língua e cultura semítica; outros helenistas de língua e cultura grega. Estes últimos tinham uma atitude mais crítica e livre para com o Templo e os costumes judaicos. Obs: Os helenistas são as pessoas de origem judaica que vivia fora da Palestina e falavam normalmente a língua grega. Os hebreus são judeus que falam o aramaico. Os helenistas usam a bíblia grega e os hebreus usam a bíblia hebraica.

A primeira perseguição dirigiu-se, precisamente contra os helenistas, que tiveram de fugir de Jerusalém depois da morte de Estevão e, por este motivo, tornaram-se os primeiros missionários "At. 11. 19. 20". Foram até à Fenícia, Chipre e Antioquia.

Esta comunidade de Antioquia viria a tornar-se decisiva no desenvolvimento do cristianismo, porque foi em «Antioquia que pela primeira vez os discípulos foram designados com o nome de ‘cristãos’» "At. 11. 26".

Esta referência indica que a Igreja começa a distinguir-se claramente da Sinagoga.Conhecemos dois missionários dessa comunidade: Barnabé "judeu helenista" e Paulo "Judeu de Tarso".

Os helenistas de Antioquia constituem o fio do cristianismo e da Igreja que prevaleceu historicamente.

   Edição Junho 2016 

 

Em Cristo.

Shalon.

Por Cornelio A.Dias  

 

"Feito perfeito, é imperfeito; como criação, o meu eu; natureza humana! C. A. Dias.

 

 

              

 

 

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