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A santificação sob a perspectiva da bíblia-introdução: Aqui |
Dezembro 6, 2007
Introdução
As igrejas pentecostais e neopentecostais ao redor das Américas estão vivendo uma nova e estranha tendência: o pós-pentecostalismo. Escuta-se hoje com demasiada freqüência que alguns pastores das Assembléias de Deus estão pastoreando igrejas que já não crêem em nossa pneumatologia e nem permitem a manifestação dos dons espirituais nos cultos de louvor a Deus.
Ao mesmo tempo, algumas igrejas lamentam que seus pastores não pratiquem e nem motivem os crentes a experimentar tais manifestações. Enquanto as notícias de deterioração na adoração pentecostal não sejam novas – ainda nos anos 20, alguns líderes pentecostais estavam advertindo sobre uma possível declinação em nosso movimento – podemos estar enfrentando um novo tipo de deterioração, sendo que a de agora é ainda mais séria, que a tendência histórica, em direção à frieza e às manifestações do Espírito.
Essa nova tendência não só mostra frieza, como também nega a validade da expressão dos dons espirituais no culto. Se é assim, é hora de prestar muita atenção na nova renovação dos charismata em nossos cultos de louvor e adoração a Deus no Movimento Pentecostal. Não só o exige a nossa tradição, senão a fidelidade às Escrituras o exige, porque em termos do grego do Novo Testamento, um pentecostalismo sem a expressão dos charismata é um pentecostalismo idiotikos. Um termo tão explosivo como idiotikos precisa ser imediatamente explicado. Ao caracterizar uma forma de pentecostalismo como Idiotikos, quero usar a palavra grega idiotes e tem um significado diferente da palavra idiota em português [1].
Não quero aplicar a palavra idiota em português a nenhuma pessoa ou perspectiva religiosa em particular. O uso de idiotikos não é um epíteto, senão um incitante estímulo à reflexão.
1. Pentecostalismo idiotikos
O conceito de pentecostalismo idiotikos está baseado no texto de 1 Coríntios 14.23, no qual o apóstolo Paulo advertiu à igreja de Corinto que se todos falam em línguas ao mesmo tempo quando a igreja se reúne, e alguns apistoi e idiotai (como descreve o texto em grego) entram ao culto, pensariam que os membros da igreja estavam loucos.
Para entender o ponto de vista de Paulo nessa passagem, é crucial entender quem eram os apistoi e idiotai [2]. Apistoi claramente refere-se aos não crentes, enquanto a versão de Almeida Revista e Corrigida traduz idiotai como indouto [3]. Esta tradução se enriquece ao compará-la com a definição provida no léxico mais destacado do grego do Novo Testamento: O Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (Léxico grego-inglês do Novo Testamento e outras literaturas cristãs primitivas – tradução livre), editado por Frederick Danker, oferece a idéia de “leigo, amador” (aquele que não tem perícia) para a primeira definição de idiotes [4].
a) A idéia da palavra laico nessa definição do léxico não tem a intenção de expressar a divisão religiosa entre os leigos e clérigos, senão enfatizar a perícia sobre a ignorância numa variedade de contextos. Em outras palavras, essa definição está de acordo com a versão Revista e Corrigida, que traduz idiotai como indouto, aquele que tem falta de instrução nos dons espirituais.
b) Um segundo significado oferecido por Danker cabe exatamente no contexto de 1 Coríntios. Especificamente na discussão de 1 Coríntios 14.23, o léxico declara que “os idiotai não são nem similares aos apistoi, nem são cristãos completos. Obviamente, estão entre os dois grupos como um tipo de prosélito ou catecúmeno” [5].
Na discussão dessa segunda definição, o léxico aduz referências da literatura grega extra-bíblica para mostrar que o termo foi usado em contextos religiosos para referir-se a pessoas que assistiam a reuniões de um religião em particular, porém não haviam chegado a ser membros formais e completos.
Um possível exemplo de tais idiotai eram os discípulos de Éfeso que são mencionados em Atos 19.1-7, os quais haviam crido em Jesus Cristo, foram batizados no arrependimento, segundo ensinava João Batista, mas não haviam sido batizados em nome de Jesus e nem sequer haviam ouvido acerca do dons espirituais no culto cristão. Paulo se preocupa em que os crentes novatos, à semelhança dos incrédulos, pudessem se confundir pelo uso desordenado do dom de línguas na adoração congregacional.
2. Modelos de crescimento da igreja
Esta preocupação paulina pelo bem-estar dos novos crentes no faz voltar à nossa situação contemporânea relativa às igrejas pós-pentecostais. A popularidade entre as igrejas pentecostais e neopentecostais de seguir modelos para o crescimento da igreja, que se denominam “sensíveis aos que buscam” e “guiado por propósito”, os quais vem sendo propostos por pastores de mega-igrejas dos Estados Unidos, tem tido muita influencia na América Latina.
Devido a isso, alguns pastores tem decidido rechaçar o uso dos dons carismáticos na adoração corporativa sob o pretexto de não ofender aos “que estão buscando” [6]. Entretanto, essa estratégia claramente ignora as intenções do apóstolo Paulo nessa passagem sob discussão.
Os missionários do princípio do século 20 foram confrontados com uma pergunta-chave quando Roland Allen publicou um tema intitulado Missionary Methods, St. Paul or Our? (Métodos missionários: De São Paulo ou os nossos?). Hoje, os pastores da América Latina têm de considerar se é melhor usar os métodos modernos de crescimento da igreja, ou os que foram ensinados e moldados pelo apóstolo Paulo na Palavra de Deus.
O apóstolo faz óbvio que não está contra a manifestação dos dons espirituais em público por meio do argumento estabelecido em 1 Coríntios 14. Depois de advertir a igreja a não deixar que os dons sejam abusados, e depois de advertir que o abuso dos dons de línguas poderia fazer com que os apistoi e os idiotai pensassem que a igreja havia se tornado louca, ele resume seu argumento dizendo o seguinte: “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vos tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação”, 1 Co 14.26.
Desta conclusão, é claro que nunca foi a intenção do apóstolo Paulo eliminar os dons espirituais do culto público, senão protegê-los do abuso para que pudessem exercer seu pleno poder de edificação para os crentes e convicção de pecado para os pecadores.
2.1. O pólo oposto de idiotikos
É importante considerar o pólo oposto da adoração idiotikos. Esse pólo não é a adoração pneumatikos (espiritual) que o Novo Testamento propõe e que mantêm a posição central e permite a expressão dos carismata. Pois bem, o oposto da adoração idiotikos é a adoração manikos. Essa palavra que Paulo usa ao dizer que os apistoi e idiotai pensaram que a igreja havia enlouquecido, está relacionada com a palavra maníaco em Espanhol e, louco, insensato, néscio, em Português.
Os que criticam o abuso dos carismata têm feito bem em chamar tal adoração “carismania”. É justamente a forma maníaca de expressão carismática que o apóstolo Paulo se opõe. Entretanto, enquanto é bom nos unirmos a Paulo em oposição à adoração maniankos, seria um grave erro proibir totalmente o exercício dos carismata. O verdadeiro louvor pentecostal-carismático se encontra no equilíbrio.
3. Quem determina o modelo?
Em vista do apoio do apóstolo Paulo ao carismata no culto público da igreja, a pergunta que se faz é: “Quem determinará o que se permite em nossos cultos de adoração? Serão determinados pela Palavra de Deus ou por apistoi e idiotai? Se são determinados pelo Palavra, teremos que assegurar que a adoração é fiel a Deus (em vez de ser apistos - o infiel) e bem instruídos pelas Escrituras.
Enquanto não haja lugar para o abuso indouto dos dons espirituais na adoração cristã, este fato só obriga aos pastores a instruir suas congregações cautelosamente no uso dos dons. Se há dito com freqüência que os pentecostais se escandalizam mais pelo uso dos dons em seus cultos do que seus convidados incrédulos ou não pentecostais.
Parece-nos que tal escândalo surge de um dos dois motivos: vergonha que os pentecostais sentem pelos dons (o que é inaceitável), e vergonha por manifestações indoutas. Em qualquer caso, a resposta é mais instrução, nunca o rechaçar dos dons. Por outro lado, se permitirmos que a adoração cristã seja determinada pelos apistoi e idiotai, devemos delinear bem as implicações de tal decisão.
a) Primeiro de tudo, deixaremos que incrédulos definam por nós o que podemos crer e praticar. Seguramente isto é a fórmula para o fracasso em termos de convencer aos povos que temos uma nova realidade espiritual para lhes oferecer. Tal estratégia é apistos ou infiel ao Deus que nos tem abençoado com sua graça em forma concreta (a palavra carisma vem da palavra caris ou graça).
b) Segundo, tal adoração será idiotikos, sendo determinada pelos idiotai. A adoração idiotikos reflete uma decisão com o propósito de recusar a instruir os novos crentes e incrédulos acerca do uso bíblicos dos dons espirituais.
Recentemente escutei um pastor da Assembléia de Deus falar de uma nova congregação que inaugurou. Aproximadamente 300 pessoas haviam sido acrescentadas à sua congregação em um ano. Delas, 150 eram novos crentes. Ele explicou que não queria dons carismáticos em sua igreja, já que a maioria dos seus membros era proveniente de outras igrejas evangélicas não pentecostais. Ele estava preocupado na possibilidade deles estarem ofendidos pela prática dos dons espirituais e na hipótese dos novos crentes estarem confusos. A resposta ante ao seu dilema aparentemente foi deixar todos no estado em que se encontravam quando migraram à sua igreja. Esta decisão é chamada apropriadamente idiotikos porque põe a posição doutrinal dos que não têm dons nem instrução no controle da igreja em lugar dos ensinos de Paulo.
Outro aspecto crucial do louvor idiotikos é que é uma decisão consciente de apoiarmos em nossas próprias habilidades em lugar do poder de Deus. A palavra idiotes é certamente relacionada com a palavra grega idios, que significa “por si mesma” ou “por conta própria”. O conceito básico de idiotes é que tal pessoa está trabalhando por si só. Não tem sido instruída por seus líderes, mas deixada a seu próprio entendimento. Não está cheio do Espírito, senão está trabalhando em seu próprio esforço.
4. Por que um modelo pentecostal?
Ao final de seu argumento acerca dos pneumaikos (dons espirituais), Paulo concluiu o seguinte: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas se alguém ignora isto, que ignore. Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibas falar em línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem”, 1 Co 14.37-40.
Paulo nos segue dizendo o mesmo no dia de hoje por meio das Escrituras. O exercício ordenado de todos os dons espirituais é necessário para a edificação e o fortalecimento da igreja (1Co 14.26). Afinal de contas, o que poderia ser mais edificante aos que estão buscando a Deus do que o dar a eles a oportunidade de serem tocados pelo poder do Deus que eles estão invocando, expressado através dos dons do Espírito? Paulo dirigiu a mesma pergunta em 1 Coríntios 14.24-25: “Mas, se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado. Portanto, os segredos do seu coração ficarão manifestos, e assim, lançando- se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós”.
Se as promessas das Escrituras não são suficientes, temos todo um século de experiência pentecostal, combinado estreitamente com a maior onda de crescimento que o mundo tem visto em toda a história. De fato, temos um crescimento de igreja que excede ao da Igreja Primitiva, registrado no livro de Atos – para nos convencer de que devemos confiar no poder de Deus em vez de nosso próprio juízo e habilidade.
O pós-pentecostalismo, corresponde ao pentecostalismo idiotikos, ao ir contra a corrente do ensino bíblico, também vai contra a corrente deste período de maior êxito do crescimento da igreja. Ao mesmo tempo que milhões de incrédulos (apistoi) e novos crentes (idiotai) estão dirigindo seus barcos ao portos de igrejas pentecostais e neopentecostais, os pós-pentecostais estão fixando um curso que os conduzirá a mar aberto, contra o mar e o vento, entrando na tormenta. O futuro dos tais não parece ser tão brilhante. Pós-pentecostalismo? Que não seja assim.
Notas
1) A palavra idiotikos não ocorre no texto grego do NT, mas é um adjetivo grego baseado na Palavra idiotes, que ocorre.
2) Idiotai é a forma plural do substantivo idiotes.
3) “Se, pois, a igreja se reúne num só lugar, e todos e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura que estais loucos?” (Revista e Atualizada no Brasil).
4) BAUER, Walter, ARNDT, Wiliam F. E GRINGRICH, Wilbur F. A Greek-English lexicon of the New Testament and other early Christian Literature, 2ª Ed., Ed. Frederick Wiliam Danker (Chicago: University of Chicago Press, 1979), 370.
5) BAUER, Walter, ARNDT, Wiliam F. e GRINGRICH, Wilbur F. A Greek-English lexicon of the New Testament and other early Christian Literature, 2ª Ed., Ed. Frederick Wiliam Danker (Chicago: University of Chicago Press, 1979), 370.
6) Quero claramente afirmar a validade de todos os esforços para alcançar os incrédulos para Cristo. Meus comentários aqui não devem ser entendidos como uma crítica aos evangélicos que estão tentando ser fiel a Cristo em alcançar os não crentes. Mas procuro desafiar suposições feitas por pastores pentecostais que pensam que usar os dons espirituais em louvor resultará em evangelismo menos eficaz.
Glossário de termos
Os seguintes termos para a classificação das diferentes formas de adoração pentecostal usados neste artigo se baseiam nas palavras gregas representadas em 1 Coríntios 14.
Pneumatikos: Adoração que é guiada e definida pelo Espírito Santo, incluindo a manifestação pública dos dons espirituais.
Idiotikos: Adoração que é determinada e definida pelos critérios de pessoas que não entendem e não crêem nos dons espirituais.
Maniko: Adoração caracterizada por manifestações maníacas que distorcem e abusam dos dons espirituais.
Charismata: Os dons do Espírito Santo, tais como línguas, milagres, curas, profecias etc.
Autor:
Joseph L. Castleberry é deão acadêmico do Seminário Teológico das Assembléias de Deus em Springfield, Missouri (EUA). Publicado na Revista Obreiro (CPAD).
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