Diretrizes para uma doutrina ecológica da cria

 


Conforme relata o autor, Deus é pensado como sujeito absoluto, o mundo tem de ser visto como objeto de sua criação, conservação e salvação. Através do monoteísmo do sujeito absoluto, Deus foi sendo retirado do mundo e o mundo se tornando cada vez mais secularizado. Nos começamos a entender Deus na consciência de seu Espírito e por causa de Cristo, que em si mesmo apresenta a comunhão única e plena do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

1. O reconhecimento da natureza como criação de Deus é reconhecimento participativo: abandonar o pensamento analítico com suas distinções sujeito-objeto e buscar aprender um modo de pensar novo, comunicativo e integrativo. O pensamento moderno desenvolveu-se em procedimentos objetivadores, analíticos. Esta é uma tendência em todas as ciências modernas que, a exemplo da física, estão organizadas nas assim chamadas ciências exatas. Porém ciências modernas mostraram que não fazem jus à realidade e dificilmente trazem progressos no conhecimento. Um pensar integrativo e integral está a serviço de uma comunitarização entre pessoa e natureza, é necessário definir essa vida de forma diferente em vários níveis: nível jurídico, nível medicinal e nível religioso. A doutrina da criação a exemplo da filosofia constrói termos e é responsável por conceitos. A teologia contém sempre também a fantasia sobre Deus e seu reino.

2. Criação para a glória: a doutrina cristã é uma concepção de mundo à luz do Messias Jesus e sob os aspectos do tempo messiânico, ela está orientada para a libertação das pessoas, para a satisfação da natureza e para a salvação da comunhão entre pessoa e natureza das forças do negativo e da morte. Deus tomará integralmente e para sempre morada na sua criação e fará com que todas as suas criaturas participem da plenitude de sua vida eterna. Todas as criaturas encontram, então, na sua proximidade a fonte inesgotável da sua vida e encontram, por sua, uma pátria em Deus.

3. O sábado da criação: o sábado é um sexagésimo do mundo vindouro, a criação chega a plenitude. A consumação da criação pela paz sabática diferencia a concepção do mundo como natureza. O sábado que abençoa, santifica e revela o mundo como criação de Deus. Na tradição teológica das igrejas do Ocidente, o sétimo dia, muitas vezes foi ignorado. Somente sábado é a plenitude e a coroa da criação, as pessoas que celebram o sábado percebem o mundo como criação de Deus. Israel festeja o sábado no tempo de sua história, cada sábado é uma santa antecipação da redenção do mundo. A luz da ressurreição é uma luz que também preenche os tempos passados e os mortos com a esperança de uma redenção vindoura, a esperança eterna de uma nova criação até o mundo sem fim.

4. Preparação messiânica da criação para o reino: a tradição teológica preferiu sempre uma estrutura com duas partes, falavam de criação e redenção. A graça de Deus pode ser vista na encarnação da eterna palavra em Cristo. Deve-se falar da natureza e da graça e da relação entre natureza e graça com vistas a glória, que torna plena tanto a natureza quanto a graça. A existência cristã não suprime a existência judaica, mas dela depende e com ela entra numa caminhada em comum. No judaísmo medieval, o cristianismo que evangeliza os povos foi muitas vezes visto e honrado como sendo a preparação messiânica do mundo dos povos desejada por Deus. A estrutura dos conceitos, imobilizada pelas contraposições, será colocada em movimento se os dois lados forem entendidos como aspectos de um processo comum.

5. Criação no espírito: na compreensão cristã, a criação é um ato trinitário, o Pai cria através do filho no Espírito Santo. De acordo com as tradições bíblicas, toda ação divina é pneumática em seu resultado. Através das energias e possibilidades do Espírito, o próprio criador está presente na sua criação, o fundamento bíblico para essa compreensão da criação no Espírito é o Salmo 104,29-30. O desdobramento teológico dessa sabedoria da criação e a estruturação teológica da criação no Espírito espera ainda hoje pela sua realização. Se o Espírito Santo foi derramado sobre toda a criação, ele transforma a comunhão de todas as criaturas com Deus e entre si naquela comunhão da criação, na qual todas as criaturas, cada qual do seu modo, se comunicam com Deus.

6. A imanência de Deus no Mundo: uma doutrina ecológica da criação implica um novo jeito de pensar sobre Deus. Deus não pode ser compreendido de modo divino, Deus não se manifesta nas forças e nos ritmos da natureza, mas se revela na história humana. O fundamento da constante diferenciação entre Deus e o mundo era o credo da criação, pois nele deus era o contraposto do mundo. O Deus criador do céu e da terra está presente em cada uma de suas criaturas e na comunhão da criação através de seu Espírito cósmico. Criação também é a presença diferenciada de deus, o Espírito, a presença do Uno em muitos. Há duas grandes concepções para compreender a autodiferenciação e esta tensão de Deus na sua criação: a doutrina rabínica e cabalística da schechina e a doutrina cristã trinitária. As evoluções e as catástrofes do universo são também os movimentos e as experiências do Espírito da criação.

7. O princípio da compenetração recípocra: a doutrina da Trindade formula diferenciações e unidades em Deus. A pericórese trinitária manifesta a mais alta intensidade de vida, que nós chamamos de vida divina ou amor eterno, ela não deve ser entendida como um esquema estático, mas como a mais alta agitação e como absoluta paz daquele amor. O conceito trinitário da vida da recípocra compenetração, a pericórese, determinará esta doutrina ecológica da criação.

8. Espírito e consciência humana: com relação à natureza, as formas de organização e os modos de comunicação de sistemas abertos, começando por matéria sem forma, passando por formas de sistemas vivos. Os princípios de organização do Espírito encontram-se em todos esse níveis: perspectiva sincrônica e diacrônica. Não entendemos o Espírito de forma idealista mas de forma realista como nos ensinam as tradições bíblicas. Pessoas humanas são participantes do sistema da vida cósmico e do Espírito divino que nele habita. O conceito da evolução deve ser entendido como um conceito básico da automovimentação do Espírito divino da criação.

 

Referencia:

Parte do Livro: Criação e Evolução – 3 Pontos de Vista - “Paul Nelson e John Mark Reynolds, Vida Acadêmica.

Criacionismo progressivo – Robert Newman

Criação de potencial pleno – Howard J. Van Till

Tradução – Marson Guedes

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